Os casais portugueses têm agora um sítio na internet onde podem encontrar alguém para “um caso ou uma aventura emocionante”. Os serviços prometem sigilo e felicidade a quem sofre da “rotina”, mas os especialistas alertam para o "desgaste" de uma vida dupla.
“À procura de romance porque em casa tudo virou rotina? Entre em acção aqui!”, anuncia a empresa responsável pelo sítio www.secondlove.pt, no espaço dedicado aos homens. “Não está interessada em grandes mudanças, mas aberta a algo novo?” pergunta o serviço dirigindo-se ao público feminino, a quem o site sugere: “Ofereça-se um romance”.
Os responsáveis da página na internet acreditam que quem “não quer ter problemas na sua relação mas, de vez em quando, acha que a monogamia é monótona” pode encontrar ali a solução, mas os especialistas defendem que a procura de um terceiro elemento para salvar a relação pode ser ainda mais prejudicial.“Não faz sentido promover a traição entre pessoas assim como não faz sentido promover a violência física e verbal, a mentira ou a promiscuidade. Sabemos que são comportamentos que fazem parte da condição humana, mas a resposta da sociedade não pode ser a de incentivar, mas sim reparar e ajudar a evitar este tipo de comportamentos”, defende a directora clínica e psicoterapeuta na Clínica de Terapia de Casal, Celina Coelho de Almeida.
No consultório de Maria de Jesus Candeias são muitos os pacientes que assumem ter relações extra-conjugais, mas não é com “ânimo leve” que vivem estas histórias: "As pessoas vivem com o medo de ser descobertas e com a culpa" e as mulheres têm, normalmente, “mais dificuldade em lidar com o conflito e acabam muitas vezes por revelar o que se passa”, conta.
Muitas vezes, o terceiro elemento aparece como um “escape” para esquecer as carências da uma relação “sem registos de paixão”, e acaba por ser “idealizado como alguém que vai preencher um vazio”.
A descoberta da traição, alerta a especialista, “abre feridas no casal difíceis de fechar”. Mas existem excepções.
O sexólogo Fernando Eduardo Mesquita lembra os “casais que são bastante abertos” ou as relações em que um dos elementos tem um problema sexual e por isso, em conjunto, decidem que a solução pode passar por uma terceira pessoa. No entanto, na maioria dos casos, um 'affair' representa “um risco para o casal”, sublinha o sexólogo, que lembra que os problemas devem ser resolvidos a dois: “a relação é sempre fortalecida quando não se mete mais pessoas ao barulho”.
Apesar dos “riscos”, os especialistas acreditam que o site se venha a transformar num caso de sucesso.
“Sempre existiram traições e nos últimos anos muitas delas surgem através da procura pela internet”, lamenta Celina Coelho de Almeida. A psicoterapeuta Maria de Jesus acrescenta: "hoje, ao primeiro obstáculo os casais separam-se ou procuram soluções milagrosas, como esta".
O Second Love conta já com 180 mil utilizadores na Holanda, 20 mil na Bélgica e seis mil em Espanha. Para Celina Coelho, o serviço que o site oferece parece "mais um retrocesso do que um passo em frente em termos emocionais: Como podemos investir numa relação, se cada vez mais procuramos soluções imediatas e superficiais? As relações satisfatórias e prazerosas requerem investimento, disponibilidade e capacidade para lidar com a frustração, seja numa relação de casal, de pais e filhos ou de amizade”.
@Lusa
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